Dissertações


PRECISAMOS FALAR SOBRE SUICÍDIO: CORPO E RESISTÊNCIA AUTOINFLIGIDA AOS PODERES HETERONORMATIVOS NA ERA DIGITAL (em andamento)

Douglas de Oliveira
Proling / UFPB

Pretendemos analisar discursos sobre o suicídio como um produto resultante de fatores sociais, como uma resistência autoinfligida contra as técnicas de objetivação que incidem sobre o corpo homossexual. Segmentamos a análise a uma arquegenealogia do poder heteronormativo, ao considerarmos a quantidade superior de casos de suicídio entre homossexuais em comparação aos casos entre heterossexuais, a cultura homofóbica, que se materializa através de micropoderes – como no bullying –, e a vida de Michel Foucault, cujas obras produzidas sobre o dispositivo da sexualidade refletem seus próprios conflitos em torno da sua homossexualidade e das suas tentativas de suicídio. A metodologia utilizada é a abordagem qualitativa, de cunho descritivo-interpretativo. Além dos postulados da Análise de Discurso Foucaultiana, recorreremos a Zygmunt Bauman e Stuart Hall para discutir noções das identidades contemporâneas, e a André Lemos e Pierre Lévy para desenhar o cenário das tecnologias digitais. Nosso corpus basilar consiste em vídeos – publicados no YoutTube – de depoimentos de sujeitos assumidamente homossexuais e transexuais tentaram cometer suicídio. A fim de analisar os depoimentos que circulam nos vídeos, utilizaremos as noções de enunciado, acontecimento, dispositivo, corpo discursivo, parresia, dentre outros. Buscaremos regularidades enunciativas nos depoimentos dos sujeitos em pauta e analisaremos as singularidades através das curvas de visibilidade e enunciabilidade do nosso corpus para discutir a relação entre saberes e poderes que instituem as práticas de objetivação / subjetivação na malha digital. Verificaremos, também, até que ponto a resistência provoca incisões através de sacrifícios letais que ganham ressonância nas redes sociais. Isso hipervisibiliza confissões íntimas que, no entanto, já se acumulam no corpo social e seguem silenciadas ou ofuscadas pela heteronormatividade há séculos. 


Palavras-chave: Análise do Discurso; Heteronormatividade; Suicídio.




DAS GRADES ÀS REDES: A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO CRIMINOSO NO ESPAÇO HETEROTÓPICO DO YOUTUBE

Dayane Oliveira
Proling / UFPB

Nosso objetivo maior nessa pesquisa é analisar como a web promove o deslocamento dos sujeitos criminosos infames da invisibilidade à hipervisibilidade. Além desse, pretendemos também analisar como os enunciados produzidos por esses sujeitos reverberam socialmente dentro desse espaço, investigar os efeitos de poder e resistência que se estabelecem nele e, por fim, verificar as práticas de objetivação/subjetivação que constituem esses sujeitos infames no ciberespaço. Para atender a esses objetivos, buscaremos suporte nos estudos de Michel Foucault sobre sujeito e poder, dentro das suas contribuições para a Análise do Discurso, mobilizando, além dos conceitos de discurso, acontecimento e enunciado, as noções de verdade, saber e poder, corpo e heterotopia. Também nos ancoramos nos estudos de Pierre Lévy sobre ciberespaço, interatividade e movimento social da cibercultura. Para a constituição do corpus consideramos o princípio discursivo da dispersão, pois estamos analisando-o no espaço descontínuo do arquivo do qual ele faz parte. Dentre os vídeos encontrados nesse arquivo, selecionamos dois que se destacavam por suas singularidades: (a) Morre Diabo (2010); (b) Mc Beijinho “Me libera nega” (2017). Essa pesquisa revela a importância de entendermos como a web se constitui como esse lugar em que as estruturas da ética e da moral são agitadas, pois apesar dos sujeitos infames ocuparem a posição de criminosos, transgressores e até de assassinos não provocam a revolta ou o ódio, mas sim o riso dos internautas. 

Palavras-chave: Análise do Discurso; Sujeitos infames; Hipervisibilidade; Ciberespaço.





Claudemir Sousa
PROLING / UFPB

Esta pesquisa, desenvolvida em nível de Mestrado, objetiva analisar a governamentalidade do sujeito fumante e a constituição de suas identidades em campanhas antitabagistas, a partir de enunciados que circulam na materialidade sincrética das embalagens de cigarro. Ancoramo-nos no arcabouço teórico da Análise do Discurso (AD) em diálogo com a teoria de Michel Foucault e suas ressonâncias no Brasil, com a Semiologia Histórica, para analisar a materialidade sincrética da imagem e com alguns teóricos dos Estudos Culturais, para tratarmos da construção identitária pelo/no discurso. De modo mais específico, a partir de uma abordagem arquegenealógica do discurso, pretendemos analisar as condições de emergência do corpo do sujeito fumante como estratégia discursiva no combate ao tabagismo; verificar como se exercem as relações de poder/saber sobre esse sujeito e as instituições que legitimam o discurso antitabagista. Nosso corpus é constituído de 18 enunciados, distribuídos em três séries enunciativas, construídas a partir da ideia de trajeto temático, quais sejam: Tabagismo e os riscos de doença e morte para o sujeito fumanteOs riscos do tabagismo passivo; e Tabagismo e impotência sexual. O campo de memória do qual esses enunciados fazem parte nos possibilita correlacioná-los a propagandas de cigarro e verificar as movências históricas do discurso sobre o tabagismo em nossa sociedade, bem como as diferentes posições que o sujeito fumante passou a ocupar em decorrência disso.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Campanhas de prevenção. Governamentalidade. Sujeito fumante.








Karoline Pereira
PROLING / UFPB

O objetivo geral deste trabalho é analisar por que a nudez do corpo da mulher brasileira é interditada no discurso da propaganda turística institucional e o mesmo não ocorre nesse gênero quando se trata do Carnaval. Os objetivos específicos são: analisar a ação da biopolítica sobre o corpo através dos efeitos de sentido produzidos pela relação entre as materialidades linguística e imagética; verificar as relações de poder que se estabelecem no embate entre a reivindicação, a manutenção, a transformação e a cristalização de identidades; investigar sobre os dispositivos disciplinares e de controle, sobretudo a interdição, que agem sobre o corpo apresentado nas propagandas; discutir a intericonicidade na materialidade do discurso em pauta sob a perspectiva da Semiologia Histórica; analisar sobre a governamentalidade na normatização do corpo da mulher; verificar por que no espaço heterotópico carnavalesco o corpo não é interditado. Utilizam-se, para isso, os pressupostos teóricos da Análise do Discurso, sobretudo com as contribuições dos trabalhos de Michel Foucault e de Jean-Jacques Courtine acerca do corpo e da Semiologia Histórica da imagem. Nosso corpus é composto por trinta propagandas turísticas oficiais do Brasil produzidas pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), em um recorte temporal que vai desde a década de 1970 até o ano de 2015. Para sua análise, utiliza-se do método arqueogenealógico de Michel Foucault. Dentre os resultados da pesquisa, constatou-se que o corpo seminu da mulher brasileira foi interditado na propaganda turística oficial brasileira, como forma de potencializar as campanhas contra o turismo sexual, porém não se observou essa interdição no discurso sobre o Carnaval brasileiro, apontando, assim, duas ordens discursivas para o corpo: numa, o sujeito vive regido por regras, normas e interdições que hierarquizam as relações das pessoas em seu cotidiano; noutra, no período carnavalesco, o sujeito vive em um mundo paradisíaco, livre de amarras, é o momento dos prazeres ilimitados e oníricos. E, então, concluiu-se que, por ser o Carnaval um espaço heterotópico de passagem, a nudez é permitida no tempo e no espaço carnavalesco, ou seja, os sistemas de controle, sobretudo a interdição do corpo da mulher, que perpassam toda a ordem da vida cotidiana, são revogados durante o Carnaval, e essa permissividade abrange, inclusive, o discurso da propaganda turística oficial brasileira.

 Palavras-chave: Análise do Discurso; Corpo; Propaganda turística





Emanoel Raiff Nóbrega
PROLING / UFPB

Em todas as sociedades, se o corpo é tomado de linguagem, é por ser capaz de produzir sentidos. Investindo na Análise do Discurso francesa como uma teoria semântica – especificamente, pelas considerações de Pêcheux (2008), para quem o discurso é a relação entre a Língua e a História –, diremos que o corpo é construído linguisticamente por práticas discursivas executadas por indivíduos na criação de uma identidade e no processo de subjetivação. Nosso objetivo é analisar enunciados imagéticos que mostram o corpo do travesti, e como ele, por práticas discursivas, transforma-o, subjetivando-se, criando uma identidade, reiterando-a (ou repelindo) pelas memórias discursivas tecidas em torno do gênero e do sexo. Como corpus, temos um recorte de enunciados (verbais e não-verbais) que, em sua maioria, trazem cartazes de eventos para o público transgênero em que se vê a exibição do corpo. Assim, questionamos: por que esse corpo e não outro, quando o padrão de gênero é normativamente binário? Para a Teoria Queer (BENTO, 2006), o travesti desestabiliza tal padrão, escorre pelas fissuras e inventa seu modo de vida: a travestilidade. Desse modo, é na escavação de discursos – tecendo memórias em torno da travestilidade –, que somos levados, enquanto leitores, a reconhecer nos enunciados, os indícios que nos apontem o travesti, estabelecendo um paradigma indiciário (GINZBURG, 2009), e observando, pela intericonicidade (COURTINE, 2006), como a repetição icônica do corpo do travesti nos enunciados faz com que esse indivíduo anormal (FOUCAULT, 2008) seja reconhecido e interpretado como tendo este modo de ser e esta identidade.





Gesiel Prado
PROLING / UFPB

Disseminada em diversos segmentos da sociedade, a moda incita no sujeito o desejo de ser visto, pois no mundo das aparências o “existir” não se faz somente pelo “ter”, porém “ser” é proporcionado pelo “aparecer”. Neste contexto a moda tece uma intrínseca relação com o sujeito, configurando-se como elemento integrante na construção das identidades. Considerando que este processo é influenciado pelas práticas discursivas (FOUCUALT, 2005), o objetivo principal deste trabalho consiste em analisar o processo de construção da(s) identidade(s) no/pelo discurso da moda. Entendemos moda como um sistema com regras e coerções, porém constituído por brechas, rasgos, e são por estes que se pode entrever como os sujeitos resistem aos caprichos da moda. O corpus da pesquisa é composto por fotografias da campanha publicitária produzida pela grife brasileira Fórum, estampadas na revista Veja, em março de 2006. No entanto, outros corpora, imagens, textos literários, vão se costurando a estas fotografias dando condições para que se estabeleça a análise. Para tanto, as análises serão efetivadas a partir dos postulados teóricos desenvolvidos por Michel Pêcheux, para o qual o discurso se dá mediante a relação da língua com a História, num gesto que envolve estrutura e acontecimento.


NOVAS IDENTIDADES DA RESISTÊNCIA HOMOSSEXUAL: COM A PALAVRA, OS URSOS

JJ Domingos
PROLING/ UFPB

Tomando como objeto de estudo a categoria homossexual dos “ursos” e apoiando-se, fundamentalmente, nos conceitos de identidade, poder e resistência teorizados por Michel Foucault e Zigmund Bauman, tentaremos nessa pesquisa: analisar que mecanismos de produção identitária são utilizados pelos ursos para construir uma identidade de resistência em meio a várias identidades que configuram o universo homossexual nas sociedades modernas, no jogo das relações de poder; escrever como se dão os processos de subjetivação do urso, a fim de não ser assujeitado por outra identidade homossexual e explicar a relevância do estereótipo no processo de criação desta nova identidade homossexual. Para tanto, serão analisados os profiles de ursos inscritos no site de relacionamento Bear 411.com.



Carlos Medeiros
PROLING / UFPB

Neste trabalho procuramos mostrar como se produzem os efeitos de sentido resultantes dos dizeres de sujeitos institucionalizados e não-institucionalizados que se encontram em embate quanto à preservação ambiental. Para tanto, propomos como objetivo principal analisar, no âmbito do discurso ecológico, através de diferentes posições-sujeito, os efeitos das relações de poder observadas na política de preservação de árvores da arborização urbana de Recife, estado de Pernambuco. Esta pesquisa é de caráter bibliográfico e analítico, pois faz uso de conhecimentos didáticos e jurídicos retirados principalmente de livros e artigos científicos, com fins de analisar denúncias e justificativas extraídas de textos midiáticos. O corpus selecionado trata do manejo e da preservação do arboreto urbano recifense, sendo composto por dispositivos legais e, também, de textos contendo posicionamentos de munícipes e do Poder Público Municipal, que circularam no periódico pernambucano “Jornal do Commercio” no período de junho de 2006 a setembro de 2008. Como referencial teórico, utilizamos a Análise de Discurso francesa (AD), a partir das reflexões de Michel Foucault e Michel Pêcheux, assim como de colaboradores da AD brasileira. A questão da preservação de espécimes da arborização urbana é discutida considerando-se: a competência da Administração Pública na proteção e preservação do bem ambiental, discutindo-se as práticas de manejo de exemplares vegetais; a legitimação da preservação ambiental “no verdadeiro” do discurso ecológico desta época; a investigação sobre a consumação de crime ambiental, baseada em efeitos de sentido decorrentes da teia de relações interdiscursivas. A gestão incorreta do arboreto urbano, além de remeter a práticas sociais que tratam sobre responsabilidade ambiental, danos e penalizações para o sujeito institucional, também provoca a conscientização quanto à importância e necessidade de preservação desses bens ambientais para gerações presentes e futuras.



Danúbia Barros Cordeiro
PROLING / UFPB

Esta pesquisa pretende problematizar como o discurso jurídico é construído, assim como as relações de poder que permeiam esse discurso e as situações judiciais. A investigação será feita sobre algumas decisões judiciais dirigidas aos grupos homossexuais pesquisadas no site do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), observando a controvérsia de posicionamento e os fundamentos que geram tais decisões. Estas reflexões estão ancoradas em conceitos teóricos provindos da Análise de Discurso de orientação francesa, por esta nos permitir investigar a identidade social pelo viés discursivo.



Edileide de Souza Godói
PROLING / UFPB

Este trabalho tem como objetivo analisar como vêm sendo construídos os processos de identidade regional/local no discurso publicitário da culinária nordestino-paraibana, observando quais são as estratégias discursivas utilizadas nesse discurso que causam um efeito de identificação. O corpus escolhido para esse estudo é composto por textos de propagandas que apresentam, em sua materialidade lingüística, o discurso da culinária nordestino-paraibana, que circulou em diferentes suportes impressos no período de junho de 2004 a janeiro de 2008. O aporte teórico que subsidiará nosso trabalho é o da Análise do Discurso (AD) francesa em sua interface com os Estudos Culturais, relação que nos permite analisar a identidade paraibana do ponto de vista discursivo, isto é, pensá-la em um contexto sócio-histórico cultural que influencia e organiza a produção dos discursos. A discussão sobre identidade e cultura na modernidade será subsidiada por autores como Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva, José Luiz dos Santos, Michel de Certeau, Douglas Kellner, Zygmunt Bauman entre outros que compreendem a identidade como um processo que se constitui no interior das relações sociais e culturais. Já para o estudo da culinária, enquanto prática social e produto de consumo, abordamos teóricos como Câmara Cascudo, Wills Leal, Michel de Certeau, Lívia Barbosa e algumas obras de Jean Baudrillard e de Néstor Garcia. Tendo em vista que o consumo de alimentos denuncia a história econômica e cultural de uma sociedade, pretendemos, assim, alcançar nossos objetivos, mostrando como a Paraíba tem sido representada, a partir de sua prática culinária, na contemporaneidade.




Emmanuelle Monteiro
PROLING / UFPB

O presente trabalho objetiva analisar, nos discursos da Literatura de Cordel, em textos do teatro e em gêneros diversos produzidos na atualidade no Nordeste, como a retomada da construção identitária estereotipada do nordestino pobre e ignorante, é subvertida através do riso, produzindo outras identidades regionais / locais de resistência para o homem e a mulher. Dessa forma, nossa pesquisa focaliza os deslocamentos provocados pelo riso, através dos personagens que ocupam o "lugar do esperto". Esse personagem, o "esperto", é aquele que, por ser desfavorecido sócio-economicamente, usa de astúcia para sobreviver. Para alcançar nossa meta, partimos dos diálogos entre Michel Pêcheux, Michel Foucault e Mikhail Bakhtin, sob a ótica da Análise do Discurso Francesa. Para tratar da questão da identidade, acionaremos os teóricos dos Estudos Culturais, nas figuras de Tomaz Tadeu da Silva, Stuart Hall, Zygmunt Bauman, dentre outros. O nosso corpus é composto pelos folhetos A vida de Cancão de Fogo, O testamento de Canção de Fogo, O dinheiro e História do cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros (1865 1917) e pelo Auto da Compadecida de Ariano Suassuna.

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